sábado, 18 de junho de 2011

Isso é real, eu sei muito bem !!!!!!

              Somente quem tem consciência da situação financeira de um professor estadual pode escrever um texto tão profundo como esse de Juremir Machado da Silva.
Não é preciso comentar...
...é só ler...

    MÃOS AO ALTO, PROFESSOR!
                          (Juremir Machado da Silva)

As palavras mudam de sentido. Muda uma letra ou duas, e muda tudo. Craque virou crack. Vida de professor transformou-se em atividade de alto risco. Uma professora foi assaltada em Porto Alegre, dentro da sala de aula,  por um adolescente armado com um revolver enferrujado, calibre 32. O guri era ex-aluno da escola. Houve um tempo, perdido nas brumas do passado, em que professores e salas de aula eram sagrados. Levava-se maçãs para a professora. Muitas vezes a professorinha era o primeiro amor, idealizado, impossível, platônico de um menino. A sala de aula era o lugar de autonomia do mestre, um templo, um palco, a esfera maior do conhecimento. Acabou.

As balas de hoje destinadas aos professores são de revólver. A situação é tão melancólica, para bem e para mal, que o assaltante não tem munição. Roubou R$ 10,00  da professora. Essa quantia diz muito, diz tudo, grita como um sintoma de uma doença grave, um mal que está aí, bem aí, mas vai sendo empurrado com a barriga. Talvez a professora assaltada seja uma pessoa sensata, aos 58 anos de idade, e não vá para a escola com muito dinheiro na bolsa. Ou quem sabe, escolada, como todos nós, carregue apenas o dinheiro do transporte e o dinheiro do ladrão. Mais provável é que uma professora, na metade do mês, não tenha mais do que R$ 10,00 para carregar no bolso. Esse é o estado das coisas, o estado ao qual chegamos, o caos.

E, os governos, que ainda não fizeram a parte deles, não garantiram sequer a integridade dos professores, desdam a falar em meritocracia, transferindo para os professores, que ganham pouco e são agora assaltados dentro das salas de aula, a responsabilidade pela falência do sistema. Ao defender a meritocracia, os tecnocratas e os políticos, falsamente racionalistas, estão dizendo que se algo vai mal é culpa da preguiça ou da incompetência dos professores. Essa é uma das maiores infâmia desse dias melancólicos em que, paradoxalmente, fala-se em sociedade da informação, mas se faz do saber uma categoria de quinta classe. Escolinha como objeto de desejo dos pais e alunos, só de futebol. Nelas, talvez o mestre ainda seja respeitado e receba doces. Nem que seja por medo de se perder lugar no time.

Eu ainda sonho com um Brasil voltado para a escola como espaço sagrado. Isso só acontecerá a partir do momento em que se considerar o ensino como primordial e os salários forem melhorados a ponto de alterar a vida cotidiana e cultural dos mestres.Um professor precisa ganhar o suficiente para comprar livros todo mês, ir ao cinema, ao teatro, a shows, a bons restaurantes, viajar e sempre ampliar horizontes. Quem não valoriza, não pode cobrar desempenho. Mesmo assim, como se diz popularmente os professores desempenham, "na moral". Sonho com o dia em que será impossível um ex-aluno ou um aluno apontar uma arma para uma professora. Por respeito, por veneração, por amor. Ou, cinicamente,sonho com o dia em que , ao menos, a professora terá R$ 50,00 na sua bolsa.


Juremir@correiodopovo.com.br

CORREIO DO POVO

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